Quase ao amanhecer Xena resolveu montar acampamento.
- Temos que parar um pouco se não chegaremos muito cansadas e
não poderei por em prática meu plano.
Xena desmontou e um lugar próximo a um lago e estendeu as
mantas para dormirem um pouco. Pediu para Gabrielle deitar a seu lado e a
abraçou forte.
- Gabrielle aconteça o que acontecer, quero que saiba que não
a considero uma escrava, Calina tem um documento que dá a sua liberdade. Quero
que me desculpe por não fazer isso antes. Temia por você me deixar assim que eu
a libertasse. Sinto por você algo que nunca senti antes por qualquer pessoa e
meu egoísmo não permitiu que fizesse isso antes. Mas depois do que Afrodite e
Athenas falaram, temo mais ainda por algo acontecer comigo e você ficar a mercê
de qualquer outro. Quero que seja feliz e se isso significar estar longe de
mim, aceitarei embora venha a me fazer muito triste, no entanto compreenderei.
- Xena, porque acha que a deixaria? Não vê que eu a quero com
todas as minhas forças? Não percebe que o que tenho por você é algo realmente
verdadeiro e sincero?
- Tenho um lado que desconhece, ainda não viu. Você é pura e
sem ódio, sem ira. Não tem maldade. Quando entro em batalha, algo em mim aflora
e fico diferente, me transformo...
- Sei de quem está falando. Está falando da Xena dos
pergaminhos que sempre li. Essa Xena faz o que tem que ser feito. Não te
julgarei. Sei que tem que se transformar para vencer e para mim a sua causa é
justa. A maldade está no mundo assim como o amor também está. Não tenho esse
ímpeto por assim dizer, mas não sou ingênua a ponto de pensar que determinadas
vezes não é assim que deve ser.
Estou com você, não por ser sua escrava, estou com você porque
quero! Como escrava, poderia me recusar a fazer amor com você e simplesmente me
castigaria ou talvez quisesse me matar. Mesmo assim teria a opção de negar. Não
neguei, pois sentia algo por você forte e queria descobrir o que era. Hoje
posso te dizer que não sei exatamente o que é, mas o que sinto por você é mais
forte que qualquer coisa que já tenha sentido antes e caminharia com você por
livre e espontânea vontade até as portas de Hades.
Xena segurou Gabrielle em seus braços e a estreitou. Era um
sentimento de plenitude que apresentava quando estava com a pequena e não
deixaria nada nem ninguém lhe tirar isso agora.
- Xena, é tão bonito dormir a beira de um lago! Há muitos anos
que não saía de dentro de uma fortaleza e agora com você é o que eu mais tenho
feito. Como é bom olhar todas essas árvores de perto e sentir o vento no rosto...
Olhar as estrelas!
- Gosta pequena? Então quando isso tudo acabar te ensinarei a
se defender ao ar livre. Não ficaremos trancafiadas no Castelo.
- Que ótimo!
- Agora durma, pois ainda temos um bom terreno pela frente e
não poderemos dormir muito.
Após cinco marcas Xena acordou e observou Gabrielle agarrada a
si. “Não vou deixar que ninguém te faça
mau algum, pequena.” – Pensou Xena.
- Gabrielle... Vamos está na hora... – Xena sacudiu levemente
a curadora para acordá-la.
Juntaram as coisas, comeram um pouco de queijo que haviam
levado e seguiram viagem.
Chegaram a Tropea já ia bem tarde da noite. Xena observou o
acampamento persa. Só havia duas fogueiras e uma grande tenda. Havia também uma
grande catapulta.
- Ainda bem que Ares foi proibido de me observar. Tem poucos
persas sitiando o Castelo e se Aahbran me ver em combate ele se prontificará a
atacar.
- Você está louca Xena? Enfrentá-los sozinha?
- Eu consigo dar conta Gabrielle, não são muitos. Além do mais
não chegaria de peito aberto. Me esgueirarei e primeiro tomarei a tenda.
- Não seria mais fácil entrarmos pelo flanco sul onde tem uma
passagem pelo fosso que dá entrada ao estábulo?
- Que entrada? Como você sabe?
- Ora Xena, passei bons anos nessa fortaleza, a conheço de
cabo a rabo. E depois trabalhava nos estábulos. Passava por lá quando queria um
pouco de ar.
Xena fez uma cara de incompreensão.
- Xena, sou escrava, mas não sou idiota. Acha que me
arriscaria fugir sem ao menos saber me defender ou saber para onde ir e com um
exército atrás para me caçar? Via o que faziam com escravos que tentavam fugir.
Ou melhor, quando caçavam os escravos fugitivos, muitas vezes já os traziam
açoitados ou arrastados pelos cavalos. Chegavam já mortos e serviam de exemplo
para o resto.
- Então vamos Gabrielle, vamos ver se conseguiremos aproveitar
essa passagem para pegar esse contingente persa desprevenido.
Pegaram as sacolas de mantimentos e medicamentos de Gabrielle
nos cavalos e se arrastaram até a passagem onde Gabrielle havia falado. Havia
dois guardas próximos, mas estavam só de patrulha, provavelmente não sabiam da
passagem. Xena fez um sinal para Gabrielle ficar escondida nos arbustos.
Esgueirou-se e segurou o primeiro por trás quebrando se pescoço, não emitiu um
só som. Se aproximou do segundo e esse se virou, Xena não queria dar
oportunidade que ele avisasse os companheiros, sacou a espada e enfiou de uma
só vez em seu peito. Virou-se para pedir para Gabrielle vir, mas esta estava de
cabeça baixa. Voltou rapidamente até os arbustos puxando Gabrielle pelo braço
fazendo sinal para que ela ficasse em silêncio. Caminharam até a passagem que
estava completamente encoberta por mato, arbustos e eras. Gabrielle se adiantou
para encontrar a porta. Localizou-a e forçou sua passagem, estava um pouco
enferrujada e Xena teve que auxiliá-la. Entraram nos estábulos sem qualquer
problema.
- Gabrielle, não posso pensar que toda vez que matar alguém
você irá me condenar ou repelir. Sou uma guerreira e se não conseguir mais
fazer isso por me preocupar com o que você sente, vou ter que desistir de
Corinto agora mesmo! Vou ter que deixar que esses crápulas façam do reino um
grande comércio de escravos e armas a céu aberto!
- Desculpe Xena. Você tem razão. Não se preocupe mais comigo,
entendo porque faz, não reagirei mais assim, pelo menos me controlarei.
Gabrielle abraçou Xena e a beijou como quem quisesse dizer que
estava tudo bem.
- Vamos procurar Aahbran.
Estavam saindo dos estábulos quando os próprios soldados as
cercaram.
- Conquistadora! Como entrou aqui? – Um dos seus soldados a
reconheceu e mandou os outros soldados baixarem as espadas.
- Ah! Meu amigo, precisava e o fiz. Quero falar agora com
Aahbran onde ele está?
- Está no passadiço da muralha.
- Essa é a nossa curadora. Leve-a para alguma sala em que
possa trabalhar.
- Sei onde é a sala de medicamentos aqui em Tropea, Xena.
Posso me virar.
- Não a quero sozinha, não vou me arriscar. Com Ares ninguém
sabe o que pode acontecer. – Xena se virou para o soldado que a havia
reconhecido e falou.
- O exército persa tem um interesse particular na curadora.
Quero que ela seja protegida enquanto estiver aqui. Ela irá trabalhar com os
soldados feridos também.
- Sim Senhora Conquistadora! – O soldado se perfilou e
acompanhou Gabrielle. Xena se virou para Gabrielle.
- Assim que as coisas tiverem acertadas com Aahbran irei ver
você. – Virou-se e encaminhou para a muralha.
Quando Xena chegou ao passadiço Aahbran se assustou ao vê-la.
- Como entrou aqui, Xena?!
- Não temos tempo agora para explicações Aahbran. Os persas
estão se encaminhando para Epidaurus, para a fortaleza. Tivemos que deixar
Corinto por um golpe arquitetado por Sileno, os persas e Ares. Eles estavam o
tempo todo orientados por Ares, mas agora tenho algumas vantagens que eles
ainda não sabem. Temos que acabar com esse contingente que está aqui e levar o
exército para Epidourus. Se os vencermos em Epidouros, praticamente Corinto
será nossa novamente. Sileno não sabe que eu seu do ataque a Epidaurus. Leva o
exército persa pela estrada principal e alguns batedores pelas montanhas. Os
homens de Epidourus montaram uma defesa na fortaleza até chegarmos. Quando
chegarmos teremos um batalhão em cada flanco a espera com algumas poucas
catapultas, mas com boas balestras e boas espadas. Por que não atacou os
persas? – Xena perguntou, mas praticamente já sabendo a resposta.
- Disse que me queria defendendo o castelo a qualquer custo.
Mandei um batedor para te avisar, mas já sabia que não conseguiria chegar, os
persas são muito sagazes. Só não entendi quando se retiraram. Não fiz nenhum
movimento por não saber se eles ainda estariam à espreita. Queria me certificar
a respeito do que estaria acontecendo.
- Há quanto tempo eles se retiraram?
- Um dia.
- Praticamente quando saí de Epidaurus. Então Afrodite e
Athenas me deram a notícia em primeira mão. Quantos eram?
- Mais ou menos uns duzentos e cinquenta homens.
- E quantos homens nós temos em condições de lutar?
- Uns cento e cinquenta homens.
- Ótimo. Tenho dois batalhões de cinquenta homens cada, a
espreita. Mais uns setenta homens que de uma forma ou de outra, podem lutar na
fortaleza e chegaremos com esses cento e cinquenta homens por trás. Eles estão
levando carroças com armamentos e catapultas?
- Sim, devem caminhar bem lento.
- Muito bem, quero que prepare os homens para partir logo.
Desceremos por onde eu entrei com uns trinta homens para dar cabo desses que se
encontram acampados aqui, depois partiremos. Não levaremos nada exceto alforjes
pessoais com comida e armas pessoais. Quero os homens leves em marcha forçada.
E Aahbran, quero que deixe seis homens bons e de sua confiança se revezando na
proteção a Gabrielle.
- Quem é Gabrielle?
Xena não sabia como explicar, pois Aahbran a levara como
escrava para Corinto junto com Xena, nem tinha tempo.
- Mais tarde eu explico com mais detalhes, mas eu a nomeei
nossa curadora oficial e parece que faz parte dos planos de Sileno raptá-la.
Não quero que ninguém saiba que ela está aqui. Vamos que estamos perdendo
tempo, reúna trinta homens para descer comigo.
- Irei com você também.
- Não. Quero que fique e coordene a nossa marcha. Quero tudo
pronto o mais rápido que puder.
Xena ia descendo com Aahbran dando ordens para os seus
soldados. Xena avistou Gabrielle sendo segura pelo braço por um soldado e se
debatia. Uma sombra anuviou seus olhos, sentia todo o corpo tremer, desceu
quase pulando do passadiço em direção aos dois. Aahbran não entendeu a atitude
de Xena e chamava seu nome. Quando Xena chegou perto dos dois, pegou o soldado
pelo pescoço e começou a socá-lo com tanta força que o soldado desacordou, mas
Xena não parava de bater. Gabrielle segurou seu braço chamando-a. Xena se virou
para ela desfigurada e quase bateu em sua face, mas quando viu seus olhos
assustados, parou a mão e soltou a respiração presa em seus pulmões.
- Ele não sabe, Xena. Ele ainda não sabe quem sou... A voz de
Gabrielle foi se perdendo ao mesmo tempo em que Xena recuperava sua sanidade.
- Se ele não sabe então que pergunte. Aahbran, suma com esse
imbecil de minha frente antes que o transpasse com minha espada. Por que ele te
segurava daquela maneira? – Xena se virou perguntando para Gabrielle.
- Ele era empregado de Tropea quando era escrava aqui, Xena.
Acha que ainda sou
escrava...
- AAHBRAN, QUERO QUE DIGA A TODOS QUE QUEM TOMAR LIBERDADES
COM MINHA CURADORA ACABARÁ EMBAIXO DE MEU PUNHAL!!!!
- É ela quem é sua curadora?
- É! E POR ACASO TEM ALGUMA COISA CONTRA?
Aahbran não entendia porque Xena estava tão transtornada. Falou
com calma, num tom tranquilo, pois conhecia bem Xena quando estava tomada de
ira.
- Claro que não Xena, apenas não sabíamos e talvez seja melhor
avisar a todos, mas pode deixar que eu faço correr o fato.
- Pois então o faça agora mesmo. Se eu vir alguém a segurando
assim novamente eu não responderei por mim, ouviu bem? – Xena falava baixo, mas
entre os dentes, quase um rosnado.
Segurou Gabrielle pelo braço puxando-a para um canto. Não
media a força com que segurava e a pressão de sua pegada no braço de Gabrielle
a fez verter uma lágrima. Foi quando Xena percebeu o que estava fazendo e a
soltou.
- Por acaso não tem
língua para falar com um bastardo destes?– Xena ainda tinha ira em sua voz.
- Sim, eu tenho língua, mas para todos os efeitos para eles ainda
sou escrava e eles não acreditam em mim. – A voz de Gabrielle estava embargada.
Xena se chocou com a verdade pura e com o efeito do que fizera
em sua pequena. Abaixou a cabeça e uma lágrima rolou de seus olhos.
- Perdoe-me Gabrielle. Provavelmente é culpa minha. Não tinha
a intensão de te machucar e também errei ao não expor sua situação atual a
todos. A partir de hoje, falarei a todos que é uma mulher livre e prometo que
nunca mais farei qualquer coisa que venha a te machucar. Tentarei tudo de mim
para te respeitarem e eu te respeitarei como minha companheira.
- Companheira? Está me dizendo que assumirá o nosso
relacionamento para todos?
- Sim Gabrielle. Não consigo mais pensar em minha vida sem
você. Isso se você me aceitar... é claro.
- Oh! Xena, é claro que aceito. Eu quero muito viver com você!
Gabrielle se pendurou no pescoço de Xena a beijando. Xena a
segurava com carinho pela cintura e retribuía o beijo com ânsia e desejo. Os
olhos dos soldados pousaram nelas admirados e Aahbran entendeu a reação de sua líder.
Aproximou-se devagar para não despertar novamente a ira de
Xena. Chamou-a com serenidade.
- Xena, acho melhor nos apressarmos. Acho que todos já estão
conscientes de que devem o devido respeito a sua curadora. E já deixei os seis
homens que me pediu para protegê-la. – Disse com um leve sorriso no rosto.
- Os trinta homens que pedi já estão a postos?
- Estão te esperando.
- O que irá fazer Xena?
- Não se preocupe, Gabrielle. Só tenho que tirar esse
grupamento de persas aqui da frente antes de caminhar para Epidaurus.
- Tome cuidado Xena. Dizem que eles são selvagens!
Xena riu com a preocupação de Gabrielle.
- Será que são tão selvagens quanto eu?
Aahbran soltou uma gargalhada e Gabrielle não se conteve e riu
junto, se lembrando do ocorrido a pouco com o pobre soldado que Xena havia
deixado inconsciente. Xena lhe deu outro beijo e se virou para encontrar os
soldados.
Quando Xena se encaminhou para os estábulos, Gabrielle
acompanhou Aahbran até o passadiço.
- Gabrielle, não creio que Xena gostará de te ver aqui em
cima.
- Não ficarei encolhida em um canto sem saber o que está
acontecendo. Por favor Aahbran, não poderá acontecer nada comigo aqui em cima.
- Então você ficará na proteção de um baluarte.
- Tudo bem!
Gabrielle olhava tudo muito atenta. Os persas tinham alguns
sentinelas observando as muralhas, mas a maioria estava em volta das fogueiras.
Mantinham uma pequena catapulta direcionada para o portão do castelo. Não
conseguiu ver quando Xena e seus homens atacaram os sentinelas ao mesmo tempo e
também atacaram o homem que operava a catapulta. Todos tombaram silenciosos.
Foi muito rápido, quando Gabrielle olhou novamente, estavam todos no chão e
então começou o tumulto. Muitos persas se levantavam e berravam, pegavam suas
espadas, mas era como uma horda de vultos se entrelaçando. O coração de
Gabrielle disparou, não conseguia divisar Xena na massa de homens que havia se
formado nas sombras.
Foi quando viu que o combate estava começando a se aproximar
das muralhas e começou a perceber quem era persa e quem era do exército de
Xena. Seus olhos procuraram Xena por todos os lugares. Escutou um grito,
rítmico afinado de mulher. Olhou em sua direção. Viu uma mulher duelando com
vários homens e matando um por um com sua espada. Seus movimentos eram rápidos,
precisos. De repente, quatro homens a cercaram, ela estava no meio de uma roda
e girava sua espada em movimentos compassados. Foi atacada por um deles pelas
costas, se esquivou do ataque segurando o golpe com sua espada ainda de costas.
Empurrou a espada do atacante e quando retornou o movimento já atacava os
homens a sua frente traçando uma linha horizontal cortando os abdomens dos três
homens ao mesmo tempo. Girou para enfrentar o persa que havia a atacado
primeiro e fincou em um só movimento a espada em seu peito. Empurrou-o com o pé
para livrar a espada e tinha mais dois homens correndo para ela. Os persas
estavam praticamente aniquilados mais pareciam que queriam acabar com ela,
deixavam de lutar com os soldados para socorrer seus companheiros na empreitada
de matar Xena. Gabrielle viu quando um persa já ferido no chão pegava uma
balestra para atirar em Xena. Gabrielle
se apavorou e então gritou.
- CUIDADO XENA, A FLECHA!
Em um pequeno segundo Xena se virou e segurou a flecha com a
mão voltando em seguida para a batalha praticamente ganha. Quando o ultimo
persa foi morto os soldados se reuniram em volta de Xena a aclamando.
Xena fez sinal para abrirem o portão e entrou com o batalhão.
- O que você estava fazendo lá em cima?
- Olhando!
- Olhando o que Gabrielle?
- Olhando a hora que precisaria de mim para que uma flecha não
te transpassasse! – Gabrielle puxou Xena para um canto pelo braço e foi falando
em um tom mais baixo. - Por acaso acha que gosto de ficar parada enquanto você
recebe uma flechada pelas costas. Precisará mais do que olhos raivosos para que
fique parada vendo-a morrer!
Xena bufou e se virou para Aahbran que ria da situação de sua
amiga e chefe de campanha.
- Tire esse sorriso dos lábios por que você será o responsável
se algo acontecer com ela mesmo que não esteja aqui para vigiá-la. Está tudo
pronto para partirmos?
Aahbran fechou o semblante na mesma hora.
- Sim, Senhora Conquistadora!
- Então vamos e torça para que ela não faça nenhuma bobagem. –
Falou Xena caminhando em direção ao portão.
Gabrielle se aproximou de Aahbran.
- Não se preocupe. Ficarei aqui cuidando dos soldados que
ficaram feridos. Ela não falou sério, só não admite que tenho razão. Por favor,
prometa que vai cuidar dela!
- Gabrielle, se alguém precisa de cuidados esse alguém não é
Xena. Ela é a melhor guerreira que eu jamais vi, e duvido que verei ainda em
vida.
- Para mim não importa se é boa guerreira ou não, mas toda vez
que entrar em uma batalha, sempre haverá perigo.
- Está bem Gabrielle, eu prometo, mas terá que me prometer não
se meter em encrencas se não quem estará encrencado sou eu.
Gabrielle lhe sorriu.
- Eu prometo, mas peça para ela me mandar notícias assim que
tudo terminar.
- Está bem.
- Já decidiram quem vai me defender em batalha? Por acaso
posso me despedir de minha esposa? – Xena se aproximou segurando as rédeas de
Argo II e do cavalo que trouxera Gabrielle. Aahbran se afastou.
- Fique com esse cavalo ele se chama Aglaio. Quero que não se
exponha muito Gabrielle. Sabe que estamos em guerra e apesar de Athenas e
Afrodite terem dito que Ares não pode mais se intrometer, sei que ele não se
dará por vencido. Conheço-o há muito tempo para confiar que ele não apronte uma
das suas...
- Digo o mesmo a você. Se você me considera sua esposa, espero
que respeite minha opinião. Não gosto de pensar que estou aqui enquanto você
está se expondo a um perigo em que eu nem posso estar por perto!
- Por enquanto, Gabrielle, terá que ser assim. Prometo, depois
que tudo passar, que te ensinarei o que for necessário para se defender e você
poder nos acompanhar em campanha.
- Tudo bem, mas a senhorita não vai me deixar viúva antes
mesmo de dizer ao reino quem sou, entendeu bem? – disse Gabrielle com um
gracejo forçado e uma preocupação sincera na voz.
Xena sorriu. Era muito bom ser amada. Sentir que alguém a
queria verdadeiramente. Que se preocupava com ela, mas não poderia deixar que
isso interferisse no que tinha a fazer.
- Gabrielle, pedi para Dionira, esposa de Aahbran, arrumar um
quarto para você. Amanhã você terá mais forças para ajudar os homens que estão
feridos, mas não se preocupe, hoje eles já estão sendo cuidados. Descanse, pois
conseguirá ajuda-los melhor amanhã. Assim que tiver resolvido as coisas em
Epidaurus, mandarei te buscar. – Xena estreitou Gabrielle em um abraço e a
beijou. Xena não deu tempo de Gabrielle falar mais nada. Não poderia, pois se o
fizesse era capaz de carregar a menina junto. Virou-se, montou em Argo e deu o
comando para o exército partir.
Gabrielle via tudo como se estivesse bêbada, distante. Não
podia crer que em tão pouco tempo, se apaixonara, fora libertada pelo seu amor
e agora a via indo embora para uma batalha e nem podia acompanha-la.
Uma mulher se aproximou de Gabrielle e a tocou no ombro.
- Meu nome é Dionira. Seu quarto já está pronto e não diga que
tem que fazer algo, porque Xena já me disse para fazê-la ir dormir.
- Ok! Como uma criança...
- Não fale assim. Pela primeira vez vejo Xena se preocupar com
alguém que não sejam seus companheiros de espada. Vi a felicidade nos olhos
dela. Ela só quer o seu bem.
- Por acaso você é amiga de Calina?
- Sim, sou.
- Vejo então porque vocês têm essas duas coisas em comum...
- Que coisas?
- O amor por seus maridos e por Xena. Vocês os desculpariam
até no tártaro.
Dionira e Gabrielle riram juntas.
- Ela tem muitos defeitos, Gabrielle. E tem muitas virtudes
também. Eu a conheço há muitos anos,
tantos quantos meu próprio marido a conhece. Se ela se apaixonou por você, é
realmente uma pessoa especial. Então zelarei por você, não por ela me pedir,
mas porque sei que valerá apena.
- Por acaso você é irmã gêmea de Calina?
Dionira riu com gosto.
- Vamos Gabrielle, vou te mostrar seu quarto.
- Só diga onde é. Eu conheço esse castelo decor.
- Então é verdade que era escrava aqui em Tropea?
- Sim, quando Xena conquistou Tropea, pedi para seguir com
ela.
- Ahh! Então esse foi o começo. Vamos andando e me conte
tudo...
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Seis marcas mais tarde Aahbran adiantava seu galope para
chegar até Xena.
- Xena, os homens não podem continuar muito mais nesse ritmo.
Estarão muito cansados quando chegarmos e terão que enfrentar uma guerra! Temos
que acampar ou perderemos muitos em combate. Os persas caminham devagar por
conta das carroças. Acabaremos chegando muito próximos a eles antes de
chegarmos a Epidaurus!
Xena diminuiu o ritmo do galope.
- Tem razão, mas não quero que nosso pessoal das muralhas,
tenham que segurá-los muito tempo até chegarmos. Descansaremos até no máximo
três marcas após o amanhecer. Peça para que desmontem e se acomodem.
Depois de descansarem continuaram a viagem em ritmo forçado.
Ao anoitecer já montavam acampamento a algumas marcas de caminhada de
Epidaurus. Xena recrutou dois batedores experientes para que seguissem com ela
para localizar o exército persa.
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Quando Gabrielle viu qual era o quarto, virou-se para Dionira
protestando. Era o quarto do antigo dono de Tropea.
- Dionira, não precisava. Não necessito de muita coisa. Posso
ficar em um quarto menor, perto da sala de medicamentos ou a enfermaria.
- Ordens de Xena, Gabrielle. Ela quer que todos vejam sua
posição para que não haja mais nenhum incidente.
- Devo dizer que não foi agradável o que passei hoje. Mas o
pobre rapaz não sabia... Como ele está?
- Xena foi muito reativa, realmente. Ele perdeu alguns dentes
e fraturou a mandíbula, além de estar meio desorientado. Mas não foi de todo
ruim. Alguns desses homens que se encontravam aqui, ainda não haviam se
acostumado em ter mulheres livres para as tarefas cotidianas do castelo.
Tivemos muitas reclamações por parte das moças a respeito desses homens tomarem
liberdades com elas. Ainda estão se acostumando e creio que esse pequeno
incidente vai chamar-lhes atenção.
- Muito bem, então vou descansar para começar a tratar os
soldados amanhã. Obrigada, Dionira. Boa noite!
Na manhã seguinte, Gabrielle foi a sala de medicamentos para
ver melhor o que tinha para trabalhar. Depois foi a enfermaria, todos estavam
bem cuidados, mas alguns precisariam de um tratamento mais apropriado. Pôs-se a
trabalhar para recuperar os homens que tinha ferimentos infeccionados.
Encontrou alguns soldados que eram do castelo antes de Xena conquista-lo. A
noticia de que Gabrielle não era mais escrava e hoje ocupava um lugar de
destaque já havia corrido, pelo que percebera. Notou que a tratavam com
deferência e quase não a encaravam a não ser quando ela se dirigia diretamente
as pessoas. Isso a incomodava um pouco, pois não queria um tratamento especial.
Apenas queria que a respeitassem.
Depois de terminado seus afazeres, se dirigiu a sala de armas.
- Bom dia! Gostaria de saber quem é o mestre de armas?
- Ele não está. Sou sua filha Hypcéa e quando ele se ausenta,
sou eu quem responde pela sala de armas.
Gabrielle olhou a menina a sua frente, devia ser mais jovem do
que ela, mas aparentava uma segurança de uma mulher já vivida. Não sabia se
pelas roupas, pois se vestia como uma guerreira ou se pela altura e
corpulência.
- Meu nome é Gabrielle...
- Sei quem a Senhora é. Todos no castelo já sabem, se tornou
uma mulher popular por aqui!
Gabrielle enrubesceu.
- Me tornei popular de uma forma boa ou ruim.
- Para alguns de uma forma boa, para outros nem tanto. Quem já
convivia com Xena e seu modo de governar, encarou muito bem e até com satisfação,
pois nunca tiveram escravos e se Xena adotasse essa postura de trazer escravos
de suas conquistas, temiam pelo retorno da velha guerreira. Alguns que se
juntaram a Xena aqui em Tropea acham humilhação ter que se submeter a alguém
que outrora era menos do que eles.
- E posso saber em que categoria você e seu pai se encaixam?
Hypcéa riu da pergunta.
- Se eu me encaixasse na categoria dos que não estão gostando,
acha que diria alguma coisa?
- Então só posso presumir que está na categoria dos que
gostou. – Gabrielle riu dessa vez.
- Meu pai é o chefe de armas de Xena desde que conquistou
Corinto. Já era o chefe de armas de lá antes. Quando Xena chegou a Corinto,
desafiou meu pai para uma luta, talvez para testar as habilidades de meu pai.
Lutaram quase uma tarde inteira, mas meu pai conta que Xena teve quatro
oportunidades de mata-lo e não o fez, mas não deixou que os homens percebessem.
Um dado momento ela parou a luta e perguntou a meu pai se queria se juntar a
ela. Disse que reconhecia em meu pai um grande mestre e gostaria de tê-lo
consigo. Meu pai antes de Xena, não era ninguém apesar de suas habilidades.
Ninguém nunca reconheceu seus atributos, não passava de um guardador de armas.
Viu naquele momento que ela o reconhecia como mestre e que talvez pudesse
desempenhar o seu verdadeiro papel. Ajoelhou-se perante Xena e aceitou
segui-la. De lá para cá ele é quem tem ensinado todos os soldados novos e é
quem treina com Xena todas as tardes para que ela se mantenha em forma. Nossa
vida também melhorou, pois pagavam muito mal a meu pai e hoje tem um salário
digno, uma posição em seu reino também. Quando pediu a Xena para me treinar no
seu ofício para que pudesse herdá-lo, mesmo sabendo que eu era mulher ela nunca
discriminou e aprovou na hora. Bem posso dizer que sou da parte dos que gostou.
- Bem então agora posso te dizer o que vim fazer. Quero
começar a treinar enquanto o exército está em Epidaurus. Digo, quero aprender a
me defender.
- Não sei se estou certa de poder fazer isso, minha Senhora.
- Não precisa me chamar assim, nem quero. Pode me chamar de
Gabrielle. Mas deixe-me expor meu ponto de vista. Vocês não receberam ordens
para me proteger? Se eu estiver recebendo treinamento para me defender, além de
estar próximo a vocês para poderem me proteger eu ainda poderei auxiliá-los a
me proteger! Não vê como é vantajoso?
- Muito perspicaz. – Falou um senhor que chegava a sala de
armas.
- Me chamo Icrá, pai dessa jovem com quem conversa.
Gabrielle estendeu-lhe a mão.
- Sou Gabrielle.
- Sim a Conquistadora nos deixou ordens para protegê-la, o que
significa que é nossa função e não a sua. – Disse o senhor com um largo
sorriso.
- Senhor Icrá, poderia me dar um bom motivo para que eu não
possa aprender a me defender?
- Sim, a Senhora Conquistadora poderia não querer.
- Mas ela mesma me disse que me ensinaria, mas teve que partir
com o exército. E depois tenho uns bons pares de marcas que ficarei no ócio, o
que não faz muito parte da minha personalidade. Considerando que estou muito
ansiosa por não saber o que está acontecendo em Epidaurus, poderia facilmente
arrumar coisas para fazer no castelo e me enfiar em encrencas, já que, uma
parte das pessoas que vivem aqui não está muito satisfeita com minha posição
atual.
Icrá olhou para sua filha que sorria diante da astúcia da
jovem. Coçou a cabeça sorrindo também.
- Muito bem minha Senhora, vejo que tem muita habilidade com
as palavras. Não me admira que a Senhora Conquistadora tenha se encantado com
você.
Os três riram da situação em que Gabrielle os colocou.
- Ok! Vamos ver que habilidades a senhora têm.
- Por favor, me chamem de Gabrielle, só de Gabrielle. E
acredito que terá muito trabalho comigo, porque não conheço nada das artes da
guerra e só quero algo que possa me defender. Não pretendo entrar em nenhuma
batalha ou matar pessoas.
Pai e filha se entreolharam, caminharam até os estandes de
armas e observaram para achar algo que poderia servir para os propósitos de
Gabrielle.
Icrá pegou um Bastão e Hypcéa um par de Sais.
- Certo. Para nós te treinarmos, terá que ser aplicada. Eu
ficarei com você três marcas pela manhã, assim que o sol despontar. Depois não
poderei mais te treinar porque tenho muito trabalho com os jovens que se
alistam e Hypcéa ficará com você outras três marcas à tarde perto do por do
sol. Mas terá que treinar sozinha todos os dias, pelo menos mais duas marcas o
que foi aprendido comigo e com ela, pois todo dia ensinaremos movimentos novos.
Fazendo assim, talvez em quatro luas consiga fazer frente a algum opositor.
- Ótimo! Quando começaremos?
- Poderá começar hoje mesmo ao entardecer se quiser. Procure
Hypcéa que ela começará a te ensinar a utilizar os Sais e amanhã pela manhã me
procure que começaremos com o Bastão.
- Obrigada mestre Icrá! Obrigada Hypcéa! Procurarei ser a
aluna mais aplicada que vocês têm. – Gabrielle se retirou da sala de armas
radiante.
Gabrielle foi procurar Dionira. Já passava da metade do dia e
ainda não havia comido nada. Seu estômago estava roncando e precisava se
alimentar se não seria capaz de desmaiar. Foi até a cozinha, quando entrou
percebeu vários olhos desconfiados e atentos. Alguns ela conhecia do castelo
mesmo da época que vivia lá. Sentiu certo desconforto. Correu os olhos rápidos
e viu Dionira falando com uma das cozinheiras. Aproximou-se com cautela.
- Menina! Onde estava? Te procurei de manhã e você já havia se
levantado.
- Foi ver o que tinha na sala de medicamentos e depois fui à
enfermaria. Dionira tem algo para comer? Não tomei o dejejum e estou com um
pouco de fome.
- Deve estar morta de fome! Ontem vocês chegaram e não se
alimentaram e depois foi dormir... Diga o que gosta e te levarei no quarto.
- Não precisa Dionira, posso comer aqui mesmo.
- Não senhora, tem um banho preparado para você e depois quero
jogar um pouco de conversa fora. Em Corinto eu sempre ia a cidade quando me
entediava, mas aqui depois que os persas sitiaram fiquei trancada a mais dias
do que posso lembrar...
- Está bem, mas não precisa fazer isso todos os dias, se não
nem me levanto para meus afazeres.
- Então vá que já subo.
Gabrielle foi para o quarto. Não tinha reparado o quanto era
grande quando chegou. Foi ao quarto de banho e tirou a roupa e se enfiou na
banheira. A água estava morna e agradável. Começou a pensar nas coisas
maravilhosas que lhe aconteceram e também na avalanche de loucuras que se
sucederam depois que saiu de Tropea e agora voltava em outra circunstância,
porém não menos perigosa do que vivia antes. Riu consigo mesma da própria
situação. Sua vida corria perigo todos os dias quando era escrava e agora sua
vida corria perigo porque era uma mulher livre... Que ironia! Ouviu um barulho
no quarto. Saiu da banheira e se vestiu com pressa. Foi ao quarto em silêncio,
mas viu que era Dionira colocando seu almoço na mesa.
- O que foi Dionira? Não queria vir só jogar conversa fora.
- Gabrielle queria pedir para não sair sozinha pelo castelo.
Ontem não pensei que a coisa fosse tão séria.
- Já sei Dionira. Já andei escutando o que está acontecendo.
Metade está ao lado de Xena por considerá-la e saber como ela governa. A outra
metade quer me pegar por achar um absurdo uma ex-escrava estar na posição que
tenho hoje.
- Não se preocupe, temos muito mais homens zelando por você do
que pessoas que a querem mal. E depois vão ter que se acostumar, pelo menos se
querem permanecer sob as ordens de Xena.
- Aí é que está Dionira! Não quero que me aceitem por Xena,
quero que me aceitem pelo que sou. Não sou melhor nem pior do que ninguém. Nem
sempre fui escrava! E depois tenho muito mais coisas a contribuir do que tinha
quando era escrava.
- Eu sei Gabrielle as coisas se acertarão, tenha paciência.
Mas por enquanto teremos que ter cuidado, só isso.
- O que é ter paciência, andar escoltada por aí? Sabe que não
farei isso. Trará mais revolta. Tenho que agir normalmente, se não, não se
acostumarão!
- Está bem, mas eu trarei todos os dias o seu dejejum, almoço
e jantar. À porta, ficarão sempre os homens de confiança de Aahbran e quando
estiver no quarto ou na sala de medicamentos sozinha, tranque a porta. Isso, eu
não quero que discuta comigo.
- Está bem. Não discutirei isso com você. – Gabrielle se
sentou para comer.
- Me diga uma coisa Dionira, como suporta a ansiedade de não
saber o que está acontecendo com Aahbran quando ele parte em campanha?
- Ah! Gabrielle, isso
eu aprendi a controlar, mas a ansiedade e o temor nunca nos deixa...
- Que tártaro! Eu tenho que achar um modo de acompanhar Xena,
não posso viver assim.
- Gabrielle você é jovem. Quando me casei com Aahbran eu já
sabia que durante algum tempo eu viveria nessa expectativa, mas achava que um
dia ele sossegaria, se aposentaria. De certa forma isso aconteceu por um tempo.
Mas eles nunca sossegam, parece que só estão vivos quando estão em alguma
encrenca. Faz parte da alma deles... Agora coma e descanse. Fará alguma coisa a
tarde?
- Visitarei a enfermaria novamente, mas um pouco mais tarde.
- Se precisar de alguma coisa, estarei em meu quarto, é quase
aqui do lado. Pergunte a um dos guardas ele saberá te indicar.
- Está bem e não se preocupe, não arranjarei nenhuma confusão.
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Xena se aproximou pela floresta estava muito escuro, pois a
lua estava minguante, mas conseguiu divisar o acampamento persa. Havia duas
tendas grandes montadas no centro. Conseguiu ver Sileno e um outro nobre que vivia
questionando os seus atos perante o
conselho. “Deveria ter acabado com ele há
muito tempo! Me tornei uma tola.” Sileno falava com um persa alto e
corpulento que pelos trajes parecia ter um grau de importância, provavelmente
um comandante. No canto havia uma carroça com várias flechas e alguns soldados
persas, mergulhando as pontas das flechas em um tonel cheio de liquido. “Veneno! Com isso eu não contava. Droga!
Espero não me arrepender de ter levado Gabrielle para Tropea”. Havia também
três grandes catapultas e duas pequenas. De resto eram só os homens e suas
espadas. Xena retornou ao seu acampamento.
Quando chegou, foi
direto falar com Aahbran.
- Temos alguns problemas!
- O que foi?
- As flechas deles estão envenenadas!
Os dois outros batedores chegaram.
- Nós vimos também, mas cada soldado carrega consigo um odre
com o antídoto.
- Menos mal, quando entrarmos em batalha teremos que avisar
aos nossos que peguem esses odres de cada homem que matarem para poder auxiliar
os nossos feridos pelas flechas.
- Eles têm três grandes catapultas e duas pequenas. Estamos
logo atrás deles, poderíamos ataca-los antes que tenham tempo de atacar as
muralhas com as catapultas.
- Atacaremos assim que se acercarem da fortaleza. – Falou
Xena. – Quando os homens das muralhas nos vir, eles darão o sinal para que os
batalhões dos flancos atacarem também.
- Quando acha que conseguirão chegar a Epidaurus? – Perguntou
Aahbram.
- Talvez amanhã à tarde. Estão muito lentos, carregam catapultas
muito grandes. Provavelmente acamparão antes de Epidaurus para atacar só de
manhã.
- Xena, posso galopar pelo leste, possivelmente chegarei a
Epidaurus antes deles.
- Eles têm batedores a frente também.
- Por isso mesmo, conseguindo passar, nossos homens estarão
muito mais preparados, talvez consigamos interceptar até seus batedores.
- Então pegue um alforje com mantimentos e vá, meu amigo. E
leve outro com você.
Seu batedor se retirou.
Na manhã seguinte, Xena levantou acampamento, mas não queria
se antecipar aos persas. Mandou as tropas marcharem mais lentas e foi à frente
para averiguar em que passo os persas caminhavam. Chegou exatamente na hora em
que as carroças saiam e ficou de observando suas manobras. Todos os persas já
iam paramentados com suas armaduras e armas. Xena percebeu que assim que chegassem
atacariam, talvez quisessem a surpresa da noite os acobertando. “Boa manobra, mas muito arriscada. Estão
seguros que vencerão.” Retornou para as suas tropas.
- Aahbran, eles atacarão assim que chegarem, não esperarão o
amanhecer. Querem antecipar e acabar logo com o combate, não querem se demorar
e arriscar perder muitos homens. Isso me faz pensar que entendem que Corinto já
está tomado e não precisam de reforços.
- Então temos uma vantagem e uma desvantagem.
- Sim. A vantagem de estarmos um passo à frente, e a
desvantagem de nossas tropas perto da muralha não conseguir nos divisar quando
chegarmos, então teremos um trabalho maior de segurá-los enquanto os flancos
laterais não chegam.
- Isso é muito ruim Xena. Certamente perderemos muitos homens
com suas flechas envenenadas.
- Talvez nem tanto. Quando chegarmos, quero o comandante
persa. Quero um pelotão nosso abrindo uma brecha no pelotão posterior em
direção ao comando para que eu possa chegar ao seu comandante e atacá-lo.
- Isso é muito arriscado Xena!
- É a chance que temos de uma vitória rápida e sem muitas
perdas.
- Xena, sei que tem muitas habilidades. Nunca duvidei de sua
perícia como guerreira, mas você é à força desse exército e desse reino. Se
acontecer algo com você, os homens se desesperarão, se dispersarão. Seria mais
prudente contarmos com as forças dos flancos primeiro.
- Aahbran, sabe que tenho razão. Não sabemos quantos nobres se
juntaram em Corinto. Quantos exércitos dos castelos dos reinos se juntaram em
Corinto? Se perdermos muitos homens, Corinto ficará distante para reavermos!
Aahbran assentiu sem muito animo.
Quando chegaram próximo a Epydaurus, o exército persa já se
preparava para o ataque.
Estavam enfileirados com os arqueiros e com as catapultas
armadas para atacar a muralha.
Xena mandou que os pelotões se posicionassem em silêncio na
formação de arco atrás dos batalhões persas, mas escondidos atrás das árvores.
Esperou a primeira catapulta ser lançada em direção as muralhas para que não
percebessem sua presença. Quando houve o disparo, Xena ordenou o ataque do
batalhão de frente. Homens a pé apenas com escudos e espadas, após ordenou seu
batalhão a cavalo seguir logo atrás pelo meio e os comandava na frente para
direcioná-los onde ela veria o líder dos persas. Divisou-o assim que ele se
virou para ver o ataque pelas margens de trás de sua armada. Investiu com os
soldados a cavalo para abrir frente e quando o comandante persa percebeu a
armadilha, já estava sendo atacado pelas laterais também. Tentou se proteger
para não ser pego, mas nesse momento Xena deixava seu cavalo em um salto e
pousou diante dele girando sua espada em movimentos rítmicos, simétricos
soltando um grito. Não permitiu que se recuperasse, partiu para o ataque. O
comandante sacou a espada para se proteger da primeira estocada. Seus olhos
faiscaram por se ver acuado e rechaçou a investida de Xena com raiva
desfechando dois golpes diagonais. Xena defendeu os dois golpes e soltava uma
gargalhada que fez o comandante arder em ira tentando acertá-la a qualquer
custo. Investiu em uma estocada na direção de seu abdômen que foi repelida.
Xena girou sobre o próprio corpo desferindo um golpe logo a seguir em suas
pernas. O homem além de corpulento era habilidoso. Pulou deixando a espada de
Xena passar e baixou sua espada diretamente nas costas de Xena. Xena segurou o
golpe ajoelhada e de costa, o empurrou por cima da cabeça, levantou e deu um
chute para trás atingindo-o no estomago. Voltou-se novamente e com a espada,
desfechou outro golpe em diagonal lhe cortando o pescoço. Viu o homem cair de
joelhos a sua frente esguichando sangue com os olhos abertos e vidrados. O
sangue pulsava violentamente em seu corpo, girou a espada fazendo um oito a sua
frente gritando para seu exército. Quando se voltou em direção da batalha os
poucos persas que haviam sobrado pelo massacre de seu exército se rendiam.
Procurou Aahbran, viu seu capitão ser carregado para dentro do pátio de
Epidaurus, com ele caminhavam presos Sileno e Altineu, o outro nobre que estava
com os persas. Xena correu para dentro dos muros da fortaleza. Havia pedido
para Aahbran prender Sileno e Altineu sem mata-los. “Deuses! Não devia ter pedido isso, era muito perigoso fazê-lo em meio
a uma batalha!”
Quando chegou ao pátio interno viu que havia um corte em seu
braço que sangrava muito. Abaixou para falar com Aahbran.
- Calma vamos estancar isso! – Falou para animá-lo, mas Xena
sabia que o corte era profundo. Se não estancassem o sangue, na certa Aahbran
perderia o braço na melhor das hipóteses.
- Fiz como pediu, minha “rainha”, Altineu e Sileno estão
presos! – falou orgulhoso com um fio de voz e um esgar de dor.
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