Bem... Acho que é hora de interagir mais e sair da minha confortável situação de mera navegadora.
Ok! vou acabar logo com o blá blá blá e dizer a que vim!
Nesse espaço pretendo, se a minha pouca inteligência para mexer nessa joça aqui permitir, postar histórias de conteúdo homoafetivo de minha autoria e da autoria de quem mais quiser compartilhar. É só enviar para meu email a compilação completa e vamos ver no que vai dar!
Começarei postando uma fanfiction conqueror que fiz há um tempo atrás e baseada nas personagens da série Xena: A princesa guerreira.
Para quem não curte esse tipo de estilo, não se preocupe. Estarei angariando outras história para serem postadas.
Boa Leitura!
O QUE VOCÊ QUER?
Por:
Carolina Bivard
Capitulo I - Nem tudo é o que parece
- O que
você quer?
- Ir com a
Senhora. Não tenho esperanças aqui... Sou escrava, se me levar te servirei.
Tenho conhecimento nas artes da cura, sei cozinhar, não darei trabalho nenhum...
Xena olhava
para a loura mirrada a sua frente sem querer acreditar que alguém em sã
consciência quereria segui-la, mesmo se tratando de uma escrava. Tinha uma
reputação de invejar qualquer deus lascivo que vivia sob os domínios do Olimpo,
de desfrutar dos despojos de suas conquistas. Embora que essa reputação fora
construída em outros tempos, mesmo assim, era algo que se mostrava claramente
nos dias de hoje, tanto aos olhos de seus exércitos quanto dos seus
conquistados. Não agia mais como uma fera descontrolada e sedenta de sangue. A
escuridão era algo que aprendera a conviver e a deixar em um canto escondido
dentro de si. Hoje só se apresentava assim em batalhas e das quais valia a
pena. Não gostava de se desgastar deixando que a ira desenfreada lhe tomasse o
ser sem mais. Era profundamente doloroso passar dias se reestruturando em uma
guerra interna para retomar novamente a paz de sua alma. Que ironia isso.
Conquistou tudo que almejava por conta de sua inteligência e de seu terrível
temperamento e inclinação para o sabor da morte. No entanto hoje esses mesmos
sentimentos faziam-na morrer um pouco a cada dia por conta dessas lembranças.
- O que
sabe de mim para achar com tanta veemência que tratarei você melhor do que
qualquer outro que te compre em um leilão?
- Não sei.
Mas curvo-me a ti para que me leve. Não tenho mais esperanças de rever minha família.
Sei que muitos foram mortos ou vendidos há muito tempo. Não sei onde estão ou
se estão vivos. Sei que é uma conquistadora e tens um lugar em Corinto. Leio em pergaminhos sobre suas conquistas.
Seguirei onde quiseres ir de boa vontade, pois não tenho, mas esperanças para
mim.
Xena olhava
aquela pequena figura vestida em andrajos. Foi tirada de uma pequena cela que
mais parecia uma jaula para guardar animais. Sabia que estaria ali por algum
motivo particular de seu senhor. Ninguém colocaria uma escrava em um tão
ultrajante local se não fosse por um motivo sórdido ou para castigá-la por
algo. Porém a garota a sua frente, causava-lhe um incomodo que se estendia
desde a base de sua coluna, até a nuca. Em todas as suas campanhas, e já se
passavam muitos verões, nunca se importara com quer que seja. Os homens que não
a seguissem eram mortos por sua própria espada. As mulheres e crianças ficavam
viúvas, órfãos ou teriam que suportar seus maridos e pais que se rendessem em
seus exércitos ou então aceitar contribuir “generosamente” para o próspero
reino que agora se estendia por quase toda a Grécia. “Que Hades estaria ela, Xena a conquistadora, diante de uma pequena e
insignificante criatura escutando suas súplicas?”
- Disse que
leu sobre mim em pergaminhos? Como sabe ler?
- Recebi
ensinamentos em minha terra natal e depois continuei os ensinamentos sob a
tutela de meu primeiro senhor, porém ele era velho e quando faleceu, fui
vendida por seus herdeiros e vim parar aqui.
Xena estava
cansada, não exatamente a nível físico. Apesar de já estar beirando quarenta
verões, tinha mais vigor físico que seus recrutas mais jovens. Mas o tempo fora
inclemente com sua consciência e seu coração. Estava só, tinha o mundo que
queria e não tinha nada. Nada que hoje realmente se importasse. Vivia bem,
tinha fortuna, um império que conquistara... Mas não tinha mais sua família,
não tinha amigos realmente. Com exceção de dois de seus capitães mais velhos
que sempre lhe foram muito leais, alguns homens que realmente se espelhavam em
sua figura, e Calina que cuidava de seus pertences pessoais, sua comida, e sua
consciência. Essa sim podia chamar de amiga. Já era sua empregada há muito tempo
para reconhecer seus bons e maus momentos. Mas muitos queriam ver-lhe pelas
costas.
“Que idiotice estaria você pensando em
fazer? Aah! Xena, não está pensando em certificar-se se vale a pena não é?”
- Está bem.
Já foi uma escrava de amor?
Agora era
Gabrielle que se chocava. Sabia das tendências lúbricas da conquistadora, porém
não pensava que ela fosse se interessar por uma escrava mal trapilha e tão mal
apresentável como ela estava naquele momento.
Gabrielle calculara mal. Sempre se apresentou para seus amos de uma
forma que sabia que causaria nojo e desgosto para que não se incomodassem com
ela e a colocassem para afazeres corriqueiros e de limpeza. E agora? O que
faria?
- Bom,
minha senhora. Nunca fui digna de tal apreço. Não sei exatamente me portar como
tal, mas se lhe dá gosto...
Ao proferir
tais palavras, Gabrielle se ruborizou e rezou para que a conquistadora lhe
repudiasse e nesse momento desejou que não tivesse feito o oferecimento.
- Está bem.
“Xena... o que está acontecendo com você
mulher? Não gosto de escravos me cercando para que ao menor deslize se amotinem
e causem transtornos a minha paz.”
Xena a
olhava com mais intensidade e concentração agora. Era um rosto sujo, aparência
asquerosa e definitivamente não era o tipo de pessoa que quisesse que estivesse
perto de si. Além do mais a havia tirado de uma prisão pouco convencional, não
que os tipos de pessoas que conservam escravos por perto, se importem com que
lugar irá colocar um escravo de castigo. Aliás, esses tipos normalmente conservavam
muito gosto por fazerem-se fortes diante de criaturas insignificante e
desarmadas. Ela conhecia muito bem qual era o sabor de tais atos. Já havia os
praticado. Não se orgulhava de muitas coisas que fez, mas também não se
arrependia, pois todas essas vivências deram a ela tudo o que desejou e levaram
parte de sua alma, porém certamente lhe deram toda a sabedoria acumulada para
distinguir o que deveria fazer sobre algo e o que não deveria.
Mas algo lhe chamou atenção. Os olhos verdes
da garota agora já não estavam mais tão vivos, estavam cheios de medo e
apreensão. “Será que por acaso se
arrependera? Será que se dera conta do que havia lhe pedido?” Para Xena
agora já ia tarde. Já havia aceitado sua oferta e não retornaria. Então que a
menina houvesse pensado antes de se oferecer.
- Aahbran,
leve essa escrava aos cuidados de Calina. Diga-lhe que a quero lavada, e muito
bem lavada. Não suporto mau cheiro. Dê-lhe roupas limpas, depois trataremos do
resto.
Xena se
virou para a escrava.
- Qual é
seu nome?
- Gabrielle.
Gabrielle
permanecia de joelhos em frente à Xena, na mesma postura que os homens a haviam
colocado. Agora se achava de cabeça bem baixa. Continuava sem acreditar no que
estava acontecendo. Sabia por tudo que lera que Xena não mantinha escravos. Era
contra essa prática, os seus serviçais eram pagos, empregados pagos. Achava que
se oferecendo a Xena, esta se recusaria a vendê-la e a libertaria para se
tornar uma empregada normal não precisando mais se preocupar em quem a
compraria ou que um dia lhe matassem sem mais. Que engano o seu. “Como pude achar que uma mulher acostumada a
vitórias e dedicada à matança se importaria com uma escrava esfarrapada e mal
cheirosa”.
Xena a
olhava tentando decifrar os pensamentos. Ficou assim durante um longo tempo apenas
observando a figura diminuta a sua frente. Tinha um rosto bonito e se não fosse
as marcas do sofrimento, diria até que poderia se parecer com a própria Cafira.
- Então
Gabrielle. O que lhe direi, direi apenas uma vez. Se você resolver se levantar
contra mim, seja pensando em fugir ou me trair de qualquer forma, será
estripada por minhas próprias mãos. Usarei o que estiver a minha frente para
arrancar-lhe as vísceras e deixarei o corpo no pátio para que os cachorros
comam mesmo se ainda estiver viva. Você
compreende o que digo?
- Sim,
minha senhora.
- Agora
acompanhe Calina e a respeite como se fosse a mim.
Calina
estava pouco atrás de Xena e se apresentou para levar a escrava.
O
acampamento já estava montado e apesar de ter o castelo de Tropea próximo,
gostava de estar com seus soldados. Já não saía de Corinto com tanta frequência,
quando ocorria, gostava de demonstrar para sua tropa que não era diferente de
antes. Isso sempre os inspirava. Estava cansada e queria um banho, depois
comemoraria com os homens, voltaria para sua tenda e dormiria. Amanha bem cedo
queria estar em marcha para Corinto.
Levaram
cerca de três dias para chegar a Corinto por conta das carroças e da marcha
lenta que imprimiam. Xena precisava se inteirar dos acontecimentos durante a sua
estada fora do castelo. Pediu para Daros levar sua égua para o estábulo. Já
havia algum tempo que sua maior companheira de viagem havia morrido. “Sim, Argo era excepcional. Foi minha amiga e
companheira de viajem durante muitos anos e muitas conquistas. Nela sempre pude
depositar minha confiança cegamente e ela nunca me decepcionou. Apesar de ter
deixado sua filha em seu lugar, tinha verdadeira saudade daquela égua...”
- Daros,
não se esqueça de alimentar e lavar Phoebe muito bem, ela merece.
- Sim, minha
senhora. Tratarei dela como a senhora gosta.
- Bom
menino.
- Minha
senhora! – chamou Calina atrás de Xena
- Sim
Calina, diga rápido, pois tenho que ver se os inúteis que eu deixo em meu lugar
enquanto estou fora, fizeram alguma bobagem.
- O que
farei com Gabrielle, Senhora?
-
Gabrielle! Quem Hades é Gabrielle?
- A sua
escrava, senhora. Aquela que tirastes da prisão de Tropea em Elia.
- Por
Athenas! Havia me esquecido da pequena, Calina. Leve-a consigo e veja se
consegue acomodá-la em algum lugar próximo ao seu quarto. Mas a tranque. Não
confio em ninguém que queira me acompanhar como escrava por livre e espontânea
vontade. Eu mesmo não gostaria de trabalhar para mim mesma. – Esboçou um
pequeno sorriso para Calina que mais parecia um esgar de dor. – A noite após o
jantar leve-a aos meus aposentos para poder saber onde podemos encaixar essa
menina. Ela já está apresentável Calina?
- Sim
senhora. Fiz como pediu, mas creio que teremos que providenciar roupas
adequadas para ela. Está vestida com uma de minhas saias e com uma de suas
camisas velhas. São muito grandes e se parece mais com um boneco de lavoura. –
Agora foi a vez de Calina rir.
- Muito
bem, então veja o que pode fazer. Como não a vi durante a viagem?
- Estava
muito assustada. Disse-me que a muito não saía de Tropea e não estava mais
segura de seu oferecimento. Perguntou-me se você tinha muitas escravas
corporais. – Xena sorriu se lembrando da pergunta que lhe fizera quando ela se
ofereceu para ser sua escrava. Havia perguntado se era uma escrava de amor
apenas para saber seu papel naquele palácio. Mas agora percebeu a confusão da
menina e achava graça das suas preocupações.
- Achei a pergunta esquisita, mas resolvi não
responder, pois não sabia dos detalhes de sua conversa com ela e o que você havia
lhe dito. Preferiu passar os dias, próximo a carroça que nos trazia, estava
sempre me procurando para não ficar sozinha e não queria se aproximar dos
soldados. Quando lhe perguntei por que estava tão assustada, disse-me que
quando era escrava de Drátios, se por ventura alguma escrava era encontrada
perto dos alojamentos dos soldados, era dada ao batalhão para que a
despojassem.
Nesse
momento Xena fechou o semblante. Sabia que a vida dos escravos de uma forma
geral era muito ruim, mas alguns senhores se compraziam muito do sofrimento
alheio. Ela mesma não era uma boa senhora. Afinal, escravo é escravo, mas
sacrificar uma mão de obra apenas para o divertimento é uma perda de dinheiro e
uma burrice.
- Agora vá
Calina, ainda tenho muito a fazer. Cuide dessas coisas para mim e a noite
leve-a até mim.
Xena foi à
sala de reunião e encontrou seus conselheiros a esperando. Metade era um bando
de esnobes engomadinhos e a outra metade eram guerreiros que haviam se aliado a
ela para poder manter seu status e suas terras que em sua maioria haviam
conquistado antes de Xena chegar com sua fúria avassaladora, derramando sangue,
derrubando palácios. Ou seja, de qualquer dos lados não era muito bem quista. “Que se danassem todos”, pensou. Ela
havia fincado sua bandeira e que eles a engolissem até o dia que morresse.
Depois poderiam se esfaquear para ver quem pegaria o governo.
Quando
sentou na alta cadeira à cabeceira, levantou as pernas e apoiou as botas em
cima da mesa pegando distraidamente uma fruta um uma cesta que havia perto a
mordendo em seguida.
- Então, o
que vocês têm a me contar...
Após horas
maçantes de discussão, sobre quem deveria governar em Tropea, ela simplesmente
jogou seu punhal cravando-o no centro da mesa para que os imbecis parassem de
tagarelar. “Estou cansada desses inúteis
que nem sequer levantavam suas bundas das cadeiras e se acham no direito de decidir
o que fazer com o que eu conquistei!” Para ela tanto fazia quem ficaria
para governar Tropea. Só se voltou contra Drátios porque o idiota achou que poderia
atravessar todo o seu império para negociar armas e escravos com os persas sem
que ela soubesse. A única coisa que queria é que a besta que se plantasse no
governo de Tropea soubesse que se levantasse contra ela teria o mesmo fim.
É bem
verdade que os impostos de Tropea seriam bem vindos. Mas não tinha sido esse o
seu motivo. E queria que isso ficasse bem claro para seus “aliados”, para que
pensassem duas vezes no futuro antes de cometer um erro semelhante.
- Acabou! Vou
me recolher e amanhã se não me derem um nome, eu mesmo o darei.
Levantou-se
sem mais e se retirou da sala com um punhado de olhos exorbitados em cima de
si.
Não foi
direto para seu quarto. Passou no alojamento dos seus soldados. Queria falar
com Tarsílio. Enquanto ela e Aahbran
estavam em campanha deixara Tarsílio a cargo de vigiar esses sanguessugas. Não
confiaria uma agulha de bordar a qualquer desses imbecis.
Chegou à
porta e viu que apenas os soldados que estavam de vigília não se encontravam
nos alojamentos. Tarsílio veio assim que a viu.
- Minha
senhora. Cumprimentou-a fazendo um
gesto colocando a mão no peito e se curvando para frente.
- Vamos
Tarsílio, sabe que não tenho a menor paciência para essas demonstrações e
floreios desmedidos. Por acaso tens passado muito tempo com esses senhores de
“boa aparência”?
Tarsílio
não conseguiu se conter e gargalhou a valer. Batalhara ao lado de Xena muitos
anos para saber que ela não deixaria passar com seu humor sarcástico a
oportunidade de espezinhar os nobres de sua corte.
- Bem, não
foi o que me pediu?
- E existe
algum que ainda tenha coragem suficiente de me enfrentar ou são todos uns
covardes que se escondem para fofocar como as meninas das cozinhas?
-
Infelizmente minha senhora, são realmente uns frouxos. Sei que não falam pela
frente mas...
- Mas o
que?
- Bem, ha
quatro dias quando chegou o mensageiro com a notícia de que havia derrotado
Drátios e estava voltando para Corinto, o S.r. Sileno partiu para Megara
dizendo que visitaria um parente. Achei uma atitude estranha, pois sabíamos que
chegaria e se reuniria com o conselho para a escolha do novo governante de Tropea.
Bem, mandei um de meus soldados segui-lo, mas até agora não tenho nenhuma
notícia.
Xena
escutava atentamente. Sabia que alguns de seus nobres e aliados levantaram a
possibilidade de realizar um tratado de comércio com os persas. Mas isso não
lhe agradava. Conhecia como os persas lidavam com seus tratados. Enquanto não
conheciam o caminho das pedras, eles eram aparentemente leais, mas depois se
levantavam como aves carniceiras para tomar tudo que podiam. Já havia visto
antes e não queria se arriscar agora. “Pelas
bolas de Ares, será que esses imbecis nunca vão me escutar. Será que terei que
acabar com a raça de meia dúzia para me fazer entender?”
Tarsílio a
observava e sabia que a notícia não havia agradado a Xena.
- Posso
fazer mais alguma coisa para ajudar Xena.
- Sim
Tarsílio, sei que Aahbran foi para casa ver sua esposa e filhos, mas precisarei
que vá até ele e diga que amanhã marchará novamente para Tropea, já passou da
hora de ter os meus no governo. Acredito que isso desagradará a alguns. Preciso
que fique atento e escolha os seus melhores para a segurança aqui no palácio.
Quero que diga a ele que vá com sua família, pois assim ficará mais seguro e
que passe pela manhã antes do nascer do sol para me ver. Acredito que você terá
bastante trabalho aqui, meu amigo.
Tarsílio
não duvidava em nada da competência e discernimento de Xena, mas não entendia,
o que o fato de Sileno ir para Megara influenciaria qualquer coisa em Tropea.
Bem de qualquer jeito apostaria em Xena até mesmo sob o tear dos destinos.
Sim, minha
senhora. Irei agora mesmo. – Agora prestou uma reverência digna de um soldado e
saiu.
Xena retornou
ao palácio através das portas dos serviçais. Não queria que nenhum nobre a
visse perambulando pelo palácio e conversando com um de seus capitães de maior
confiança. Isso levantaria suspeitas.
Chegou por
um corredor estreito a ala principal e foi direto para os seus aposentos.
Entrou na ante-sala e viu uma figura pequena, sentada de costas e sua serviçal
Calina de pé a sua espera. Mais uma vez havia esquecido a escrava que trouxera
consigo. “Mas onde estaria sua cabeça
para trazê-la para cá? Em que tártaro se enfiou hein Xena? E agora? O que faria com essa criatura que mais
parecia com um filhote de coelho assustado?
- Muito
bem. Vejamos... Levante-se, quero vê-la - Xena pensava nas palavras de Calina,
sobre a reação dela quanto à pergunta que fizera em Tropea. Tinha um humor
realmente sarcástico.
Gabrielle
se levantou e se virou para a conquistadora.
Os olhos de
Xena não acreditaram no que viram. Não se parecia em nada com aquele saco de
trapos que vira em Tropea. Era uma menina que não devia passar de uns vinte dois
ou vinte e cinco verões. Pequena, cabelos louros. Um dourado da cor do sol. Um
semblante iluminado, mas com uma tristeza no olhar que tocou o mais profundo de
sua alma. Seus olhos eram de um verde, quase transparentes, parecia a Xena que
estava entrando no reino de Ilusia, através de seu olhar. Ficou sem ar. Tinha
que recuperar a sanidade perdida temporariamente pelo apelo enigmático desses
olhos.
- Muito
bem. O que farei com você menina?
Gabrielle a
olhava agora sem entender o que acontecia. – “Que olhar foi aquele? O que essa mulher vai querer de mim? Depois de
tantos anos conseguindo me preservar de amos libertinos e bárbaros, eu mesma me
coloquei nessa posição tão vulnerável? Terrível erro...”
No entanto,
Gabrielle olhava a mulher a sua frente e não conseguia crer em sua
personalidade lida em tantos pergaminhos. Simplesmente, não conseguia vê-la de
forma tão arrasadora e cruel. “Estava ela
se enganando?” Baixou o olhar, não conseguia suste-lo. Foi como uma
eternidade, esse breve momento de silêncio que as abraçava.
Xena rompeu
o silêncio.
- Calina,
quero que você cuide dessa escrava e a ensine os afazeres de meus cuidados.
Assim, quando viajar, não precisará deixar o seu Tarsílio para enfrentar
batalhas inúteis aos meus cuidados. Agora podem ir, tenho coisas a fazer. – Fez
um sinal com a mão para que saíssem.
Xena estava
completamente esgotada com os acontecimentos do dia e para fechar o seu dia
ainda se surpreendera com uma escravinha insignificante que ousava ter o olhar
mais embriagador do mundo conhecido.
Aqueles
dias estavam sendo surpreendentes para Gabrielle também. Foi ao tártaro ao ver
as intenções de sua nova ama há dias atrás e foi ao Elísios ao encontrar com
seu olhar azul fogo e ver que ela não queria mais nada, senão seus serviços
como serviçal pessoal. “Quem era ela
afinal? Sempre conseguira decifrar as pessoas. Mas a Conquistadora... Que
mulher surpreendente!”
- Calina,
ela sempre foi assim?
- Assim
como?
- Bom...
desse jeito de olhar? Quero dizer...humm... Sabe, diz uma coisa e depois se
apresenta de outra completamente diferente... não pensei que ela...humm
quisesse alguém só para cuidar de suas coisas. Sabe, lá em Tropea ela falou de
uma forma que parecia...hummm...não sei. – Gabrielle estava confusa e não
conseguia se expressar direito a respeito de suas percepções.
- Bem... Na
verdade é uma mulher decidida, de temperamento incrivelmente forte e nunca
aceita um não. Mesmo que discorde, não pode questioná-la e ao mesmo tempo odeia
que mintam para ela. É uma situação difícil de lidar.
- E como
saberei agir nesse caso e não acabar na ponta de sua espada?
- Bem
Gabrielle, a escolha das palavras é fundamental. Conheço a conquistadora desde
que casei com Tarsílio e isso já fazem quase oito anos. Amo meu marido e ele
ama Xena, não no mesmo sentido. Foram companheiros de muitas batalhas, são
muito próximos e ele me ensinou a olhá-la de um modo simples e hoje a amo
também. Não te direi que é fácil, é intempestiva, às vezes agressiva, mas
também é justa. Talvez no modo de lidar com as coisas pudesse ser menos
reativa, mas como já presenciei várias vezes, essa mesma forma agressiva e
intempestiva, já lhe salvou diversas vezes a vida. Então, como não entendê-la?
Xena entrou
em seu quarto extremamente agitada. – “Por
Zeus!!!! Que olhar é aquele. Como a menina está diferente! Agora sem a sujeira
em cima e com roupas mais apropriadas, como está interessante! Chegaria a
repensar essa coisa de escrava de amor...” Xena riu de seus próprios
pensamentos. Havia muito que não tomava alguém para apaziguar seus anseios
sexuais. Mas também havia algum tempo que não lhe interessava acordar com uma
criatura ao seu lado para lhe atormentar a manhã. Aborrecia-se muito quando via
que alguém estava ocupando sua cama e a enjoava sobejamente esta cena logo de
manhã.
“Vamos, Xena. Essa menina tem seguramente
quase a metade de sua idade e possivelmente, se o que falou for verdade, seria
uma péssima amante. Não gostaria de ter que ensinar truques na cama que
aprendera durante uma vida inteira, né?! Ou talvez, sim?” – Xena sorriu de
novo ao perceber onde daria sua linha de pensamentos. Pensou novamente nos
olhos da escrava e um calor a tomou por dentro. Estava demasiado cansada e
resolveu que essa não era uma coisa que deveria se ocupar naquele momento.
Seguiu para o quarto de banho e viu que Calina já preparara tudo para que ela pudesse
se livrar de toda a sujeira de seu corpo e pudesse dormir em paz.
Calina
levava Gabrielle para um quarto pequeno na ala dos empregados. Esta situação
era inusitada. Já não havia escravos há muito tempo no castelo e logo Calina
não sabia como proceder. Mas a conquistadora dissera para lhe colocar em um
quarto próximo a si e trancá-la. Era uma situação realmente constrangedora.
- O que
sabe realmente fazer, Gabrielle?
- Bem, com
meu primeiro amo, aprendi as artes da cura. Não posso me queixar dele, era um
bom homem, considerando sua aparência. Ele tinha uma doença que deixava sua
pele em manchas como uma vaca pintada e um problema na coluna que fazia dele
muito mais baixo do que realmente era. Quando me adquiriu, soube que sabia ler
e resolver me colocar a seus serviços para auxiliá-lo na feitura de seus
medicamentos e acabei ajudando também no tratamento dos enfermos que chegavam
até ele. Chegou um momento em que ele não podia mais atender as pessoas, pois
não conseguia mais sair da cama, então me mandava em seu lugar. Fiquei muito
triste quando pegou a doença da tosse. Sabia que seria difícil ele se
recuperar, pois já levava muito tempo deitado e já era muito velho. Depois seus
herdeiros disseram que não precisariam mais de mim, pois não manteriam mais um
hospital no castelo e me venderam para Drátios. Foi uma época muito ruim, pois
fui colocada para lavar as latrinas. Drátios falava que era para domar os
escravos novos. Todos os escravos novos de Drátios faziam os piores trabalhos
do castelo. Mas a minha maior tristeza foi pela perda de meu amo anterior. Ele
era um bom homem e gostava de manter o hospital e auxiliar o povo. Mas seus
herdeiros não se importaram com sua vontade e destruíram o que ele levou uma
vida para construir.
Gabrielle
agora estava de cabeça baixa. Calina se comovia com a história da menina e
sabia o quanto poderia ser difícil para alguém ter muito mais do que espera e
depois ser-lhe tirado tudo. Mas sabia também que já tinha um lugar para
Gabrielle no castelo.
- Também
sei cozinhar. Bom... pelo menos em Tropea, quando era mandada para as cozinhas,
todos elogiavam.
Gabrielle
tinha esperanças de poder fazer coisas melhores que em Tropea. Não fazia só os
serviços das cozinhas, era designada para qualquer coisa que os empregados de
Drátios a mandassem. Mantinha-se sempre suja para que eles a colocassem em
serviços do mais baixo nível, mas também não se cercavam dela. Um dia viu que
uma garota que foi limpar o quarto de um capitão de Drátios foi pega por ele e
ele fez tantas coisas ruins que ela depois sangrou e morreu sem que a
socorressem. Os soldados riam dessa ação de seu capitão. – Nesse momento
Gabrielle fez uma cara de dor e desespero ao ter essas lembranças.
- Bem,
Gabrielle. Creio que a Senhora Conquistadora já tem um papel para você. A
partir de amanhã me acompanhará nos afazeres dos cuidados pessoais da Senhora.
Talvez mais tarde ela descubra que você possa ter outros valores dos quais ela
possa se valer. Este é seu quarto. Não é muito grande mais acredito que seja
melhor do que quando vivia em Tropea. Ah! Lembre-se de todo dia de manhã
banhar-se. A senhora conquistadora odeia sujeira e é capaz de não se importar
de livrar-se de você mesmo sabendo que tens habilidades das quais ela poderia
se interessar. Certamente ela não te venderia. Mataria você sem ao menos olhar
em seu rosto para depois não lembrar-se mais que um dia existiu.
Uma onda de
choque percorreu toda a coluna de Gabrielle. Parecia que Calina lera seus
pensamentos.
- Sim,
senhora!
-Não
precisa me chamar de senhora, Gabrielle. Mais aprenderá que a senhora
conquistadora gosta que lhe deem reverências. Assim que nunca se refira a ela a
chamando pelo nome. Sempre, sim, senhora ou senhora conquistadora. Quando ela
pedir que a olhe nos olhos, faça-o. Ela gasta de saber o que os olhos dizem,
mas só nesse momento deverá olhá-la assim. Agora vá dormir, pois amanhã temos
que acordar antes do nascer do sol. A senhora conquistadora acorda a essa hora
e temos que preparar seu dejejum e seu banho matinal. Depois quando ela sair do
quarto para seus afazeres deveremos arrumar todo o seu quarto.
- Obrigada,
Calina. Tem sido muito boa comigo esses dias. Já havia me esquecido como era
ser tratada de uma forma gentil.
- Não tenho
porque tratar de outra forma. Aqui não temos escravos Gabrielle, portanto não
sei nem mesmo como tratar de outro jeito. Com toda a sinceridade, não sei por
que Xena a trouxe para cá. Ela não gasta de ter escravos por perto. Diz que é o
jeito mais fácil de ter aborrecimentos. Há muito tempo que ela não entrava em
uma batalha e derrubava um governo como fez em Tropea. Mas em outras épocas ela
pegava os escravos e negociava. Como fez com o resto dos escravos de Tropea.
Mas trouxe você conosco, e isso é inusitado até para nós. Bom, já passa da hora
de dormirmos. Amanhã arrumaremos mais algumas roupas para você. No baú de seu
quarto tem uma saia e uma blusa e panos para o banho. Boa noite, Gabrielle.
Terei que trancar seu quarto.
- A isto já
estou acostumada, não se preocupe. Boa noite, Calina.
Quando
Gabrielle entrou no quarto, nem acreditou no que viu. Não era um quarto grande,
mas certamente tinha mais conforto do que seu próprio quarto em Potedia. Tinha
uma cama no canto, uma mesa com uma cadeira, um jarro com água para beber e um
baú. Havia também uma bacia com água, sabão, um pequeno biombo com um pequeno
cocho para banho e já cheio com água. “Será
que Calina havia posto isso alí? Deuses ela era uma escrava e estava sendo
tratada com um respeito que nunca tivera... Nem mesmo...” Parou sua linha
de pensamento, pois não gostaria de determinadas lembrança ingratas.
Antes do
nascer do sol, Aahbran e Tarsílio já estavam batendo à porta do quarto de Xena.
Xena se
aproximou, abriu a porta e mandou que entrassem. Sentou-se em uma poltrona do
vestíbulo.
- Onde
Hades está Calina, Tarsílio?
-
Preparando seu dejejum, minha senhora. Não sabia que viríamos tão cedo.
- Bem.
Prestem muita atenção no que vou lhes dizer e não quero uma palavra fora desse
quarto. Se souber que alguém além de vocês, comentou algo por aí, saberei que
saiu de suas bocas. Então verão uma Xena que a muito não aparece e irão se
arrepender do dia em que me conheceram. Entendido?
Os dois se
perfilaram e disseram ao mesmo tempo.
- Sim
Senhora.
Pouco
depois que Tarsílio e Aahbran saíram, Calina entrou no quarto de Xena acompanhada
de Gabrielle com o dejejum. Esta trazia em suas mãos um cesto de frutas e ovos
cozidos enquanto Calina trazia uma garrafa com água e outra com sidra.
Gabrielle se mantinha com os olhos baixos como convinha a uma escrava.
Depositou a cesta na mesa em frente à Xena fazendo uma reverência. Ia se
afastando para dar lugar a Calina. Xena a segurou pelo braço lhe causando um
estremecimento no corpo.
- Olhe para
mim menina!
Assustada,
Gabrielle olhou-a por alguns pequenos segundos, não conseguindo sustentar o
olhar.
- Disse
para me olhar! - Xena falou baixo, porém sua voz parecia mais um rosnar do que
propriamente uma entonação vocal.
Gabrielle
agora era pega pelo seu olhar profundo que parecia desvendar-lhe o mais fundo
de sua alma. Estremeceu novamente. Olhos e rosto desfigurados pelo medo.
- Tem medo
de mim, criança? – Agora sua voz era suave, porém mantinha uma entonação
poderosa.
- Sinto
senhora, mas sou uma escrava. A mim foi ensinado não conduzir meu olhar aos
meus amos.
“Menina esperta. Aprende logo, na certa
Calina lhe falou para não me encarar enquanto eu não a abordasse”.
No entanto,
Xena sentia uma intrigante necessidade desta garota a encarar. Seus olhos eram
puros, cheios de medo sim, mas dóceis, como se nenhuma maldade houvesse
perpassado pela sua vida. Coisa que sabia não ser verdade. Como escrava devia
ter passado maus pedaços, no entanto tinha uma pureza que chegava a embriagar
Xena.
Mais
afastada, Calina observava a atitude de Xena com certa desconfiança. Não sabia
se temia sua reação em relação à Gabrielle ou se surpreendia. Xena não era dada
a se incomodar com empregados, quanto mais uma escrava. Pressentia algo no ar e
não conseguia decifrar se era bom ou ruim. Depois de alguns anos servindo Xena,
a maior parte das vezes sabia quando gostava de algo ou tinha vontade de matar
o mundo, no entanto esta situação lhe deixou apreensiva. Xena continuava
encarando Gabrielle sem dizer uma palavra. Por fim, soltou seu braço e pediu
para Calina arrumar seu quarto e preparar seu banho.